sexta-feira, 31 de agosto de 2007

sérgio sampaio me disse que as pessoas são lindos problemas numa canção bonita. minhas palavras giram sob esse céu de afeto. eu não tenho visto esse corpo. não tenho casa. as pessoas são problemas. o inferno. quem disse isso foi sartre. mas tanto faz, entende? agora estou amargo. sérgio sampaio não tem tanto açúcar assim pra me dar. e eu só procuro o útero, essa volta. mas não encontro essa utopia. e crio algumas máscaras. eu vou descendo a rua falando sobre entretenimento e finjo muito bem saber os nomes das músicas que gosto. eu penduro um quadro na parede e a pintura me diz que é melhor ficar com as coisas. e só. tudoentredois é problema. sem beleza. estou amargo, já disse. por isso não espere aqui o lírico, o infantil e surreal. nem me espere. não estarei. melhor esperar por godot. ou por deus. saravá. estou amargo. e só. com as coisas e com o vento. eu posso sair por aí e fingir que conheço todos os lugares e que sei aonde estou indo. mas estou aqui e quero ficar aqui. nesse eu. o ego é como um grande céu onde desenho as letras gigantes: E U.

estou certo. eu estou certo. eu estou aqui. eu estou amargo. eu estou aqui. eu estou só. eu quero que as coisas estejam. eu não quero o sorriso sem útero. eu estou aqui. eu estou amargo. eu cruzo as ruas dentro do quarto. eu esqueço todos os nomes. eu começo de novo. e de novo. mas agora estou amargo. eu estou riscando os nomes. eu gosto de fogo. eu não escuto sérgio sampaio agora. eu . eu . eu. faço qualquer coisa, entende? e dessas coisas de abimos e ego eu sei. mas quero afeto. isso é fato. mas fatos não existem, existem apenas interpretações. isto é niezstche. eu quero o útero. a volta ao ventre. ficar dentro. e não entre. acho que é por isso que nada aqui fora dá certo. aqui é tudo entre. o afeto. a música. a noite. o amor. mesmo o amor. fica dentro mas sai. na verdade ele não fica dentro. só finge. entra e sai. o amor o sexo o amor o amargo o abismo o sexo. tudo é máscara. e fingimento. está todo mundo bem. estão todos bem. só eu falo. ou escrevo. ou confesso. só eu. eu fico amargo. todo mundo está bem. todo mundo tem enormes sorrisos. e falam comigo. é engraçado como não gosto de sorrisos quando estou amargo. e eu estou amargo. o sexo fica entre. e nunca dentro. com ou sem metáfora. é assim. é por isso que eu corro e fecho os olhos e abandono os poros ao fluxo. eu quero estar dentro do mundo. dentro do rio. dentro do mundo. do afeto. do amargo. quero estar dentro de cada coisa. de cada pessoa. mas eu estou amargo. eu não quero estar dentro nem acreditar que possa estar dentro. nem acreditar que isso exista: estar dentro.

aqui fora só existe o entre. e eu gosto do entre, não é isso. mas estou cansado. e amargo. porque tem de ser assim sem linguagem, os ruídos e tudomais? porque tem que ser esse silêncio ou porque tem que ser esse grito essa fala? nada se resolve aqui fora: está tudo entre. e eu não acredito no entre. não agora. estou. agora que estou e quero ficar aqui. eu vou procurar um lugar pra ficar dentro. eu quero ficar dentro. mas acho que isso só vai significar ficar dentro de mim, nesse abismo mudo de tantos anos. acho que é isso. sem literatura, confissão ou oquefor. dane-se. danem-se. principalmente isso: danem-se. uma grande banana pra todagente. pra todo esse fora, esse estar-aqui. aqui estou só. e amargo. porque as pessoas são problemas. e minha mão é uma rua por onde chego à praia. as pessoas são problemas. problemas. apenas isso. eu me disse.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

as maçãs
estão me fazendo sorrir
e as menssagens vêm pela garrafa

e vão rio abaixo

falam das idéias
noturnas e do outro lado

leio tudo como se fosse
um rei

e as maçãs
me fazem sorrir

eu não me encontro só

e olho o oriente
e o horizonte

com um grande aceno
pedindo socorro.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Water - 29.10.91

ruminando
o líquido
e essas voltas
pela cidade

dentro da vértebra
andando como
um sopro
à noite

caminhando
com a cabeça
violenta
e o espírito

a água

(essa sede)

cruzando
as ruas
livremente

n ossos corpos
d e l i c a d o s

como a noite/açúcar
e esse som sujo
colado em
nossosolhos

nossas mentes
rolando sobre a grama
(essa água): o mar.

domingo, 19 de agosto de 2007

caminho com os pés suspensos sobre as flores. eu vou junto com o sonho desta noite quando

acordei e vi que o dia tinha acabado e levado suas dores. eu te falava como as ruas se

dobram sobre as vozes e como é bom ir por aí sem destino e com alguém. fico cantando as

letras que sonhei e vejo o teu rosto repousando no horizonte. eu só espero o afeto e o

útero. a manhã bonita colada ao teu sorriso. eu tento. é que quando eu conheço alguém quero

viver mil histórias sem dor.
sincero
o rio derrubando as cercas
e os sorrisos amigáveis.

a madrugada
roendo as palavras
e o alcóol sem data
de nossa história.

sou
a criança
que acredita
nas peças que cria
e na atmosfera

e eu sempre volto
pra mim.

guardo os nomes
bonitos na minha cabeça
e esses diálogos.

drunk: elétrico

como a noite/os corpos

antes da viagem

e do que não interessa.

sei dizer
o que quero e não quero

e não fico quieto.

drunk: elétrico.

como a linguagem

e tudoquefica
entredois.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

o nosso rei está no ventre. minha palavra cobre o sol. o livro fica em silêncio e toda terra

treme. nosso povo vem de longe. caminhando através dos séculos. os passos perdidos dentro da

linguagem. a profecia se abre como uma fruta e a manhã. a aurora derrama seus olhos sobre

seus filhos. o dia cospe em nossas bocas e nos amamenta. a enorme teta do mundo nos abriga.

os antebraços mais doces das cidades nos acariciam. nossos rostos são iluminados como o fogo

que queima desde o início. o universo escorrendo na calçada. um sorriso aceso como as

crianças que correm à nossa frente. nos jardins os tigres brincam com as vespas. o caminho

se contorce como um deus elétrico. o tempo flui em nossa medula. meu povo tem sede de

felicidade e justiça e colhe os lírios mansos do afeto. criamos as camas e os vinhos nobres

do espírito e da carne. nossas casas tem o cheiro da amizade e um gesto esquisito suspenso no ar.

queimamos nossos nomes na estrada. estamos dentro do gato azul. o céu redobra a atenção e os

pés cantam as belas cantigas. a paz e o delírio. o grande oriente. a américa e o antigo. o ocidente e

o antes. nosso além e nossa origem. a floresta mansa de nossos antepassados. a fome por afeto. e

a justiça de nosso ventre. a vida. e a nossa vida.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

meus ossos crescem e eu
fico velho. essa barba
esse rosto essa pele tudo
está dançando dentro da gravidade.

a palavra rio está gasta
como a garganta.

invento os sóis dessa hora
como se fosse um novo ano
e eu continuasse caminhando
pelas ruas de minha vertigem.

longos pássaros pousam
em meus olhos.

o espelho e o escuro
se trancam
nos bolsos de minha mente.

renovo
os segredos da infância
e escondo num livro

meu corpo
essa fuga abençoada
o vôo

e todos os soluços.

sábado, 11 de agosto de 2007

a primavera do tempo. vejo os homens caminhando sobre a terra. seus veículos

loucos e soberanos e seus dentes queimando o sol. os homens assaltam a cidade

como grandes animais e o ódio é o pão comum. os jardins incendiados e os pássaros

adiados pelo antebraço do dia. esse oceano do século. esse ritmo esses rostos

tudo tão deliciosamente antiquado. tudo assim nonsense. e tão fraterno e

ancestral. esse rasgão na carne esses socos no ar. posso ver os enormes sorrisos

gordos e assustados com o pássaro de fogo e com o verão. essa cacofonia fértil de

nosso cérebro. o espanto e o açúcar. essas moças desmaiando e esses vestidos. um

campo aberto e tranquilo. uma lenta caminhada. as drogas leves e que ficam

passeando sobre a pele. essas datas anteriores. esses dadas. paris. a revolução.

o que está perdido. essa música cortando as cabeças burguesas. a aurora de um

tempo como um abraço da faca. essa luz percorrendo toda a cidade e devorando as

pernas. essa grande chuva. esses trovões e os carros suspensos da mente. o breu

da tradição e a fé no esquisito. essa risada esse ganido. o comportamento

fundamental do rio. e da queda. o ventre delirante do meu corpo. meu passado.

essa música e todos eles. todos eles. todos eles. e as piadas. sobretudo as

piadas e a ironia. e esses dentes e essas unhas. docemente subvertendo os sonhos

do horizonte. e seu sono. arrancando o cabelo estéril das famílias. marchando

como um vírus sobre as praias dos homens. a fúria a rebeldia a selva acordada do

peito. a destruição de tudo que é frágil. e claro como o dia. e tem rosto e se

assusta. tudo que é silêncio. tudo que não é tumulto. tudo que não escapa. e é

contra o magma da existência. a navalha da fome de futuro e vida. a vida. nós.

todos nós. agora. agora. agora.
eu não quero
nada
que seja limpo. esse teu sorriso
e o céu branco como o teu olho.

não quero.
essa infância
estúpida como dentes
guardados. eu não quero

e não tenho
medo.
mordo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

o cheiro
do alecrim
está em mim

por isso não acaba

e vem
de teu sorriso
e da palavra
doce de tua boca

e está
em tua roupa
como se fosse
um sonho
que a gente desenha

e não apaga

terça-feira, 7 de agosto de 2007

fale comigo a linguagem do amor e de seu sangue. me dê sua alma e deixe eu entrar

em sua casa. sou um senhor em seu mundo. essa queda ligeira. fale comigo. eu

tenho o vermelho pra nossas roupas. fale comigo a linguagem desesperada e o

delírio. como um sino. e as mãos agressivas que se repetem. eu vou te balançar

como o sino vermelho e como as roupas no varal. eu fico olhando você tomando um

choque e penso que você está seguindo o universo e vem falar comigo essas

sendas que só nós conhecemos. eu sonho o universo te fabricando e você fala

comigo sobre o que vê. e os momentos em que você cheira a garganta doce do

futuro. como um rio dentro do peito. aceso como esse olhar e essa linguagem. eu

te levo pra dançar com o universo e escrevo as canções desta noite. eu apenas sei

que você se move lentamente e não se envergonha e não vai embora. como esse sonho

saindo do que o universo pensa sobre mim. um filme nonsense sobre nós e sobre

como o escuro cobre as coisas sobre mim. e uma chuva. essa chuva que fala comigo

em tua linguagem. olhando os flashes que você projeta. e os pássaros. essas

gotas.
quando eu cair entre as rochas eu vou dizer que estava querendo caminhar por aí.

como se fosse agosto e chovesse mas o frio não me fizesse esperar o sol e eu

seguisse por aí. sem procurar as pessoas sem rosto. sem anotar os nomes sobre

nós. sem o guarda-chuva imenso da lógica. sem querer saber nada sobre nós.

deixando esse silêncio para nós. sem pedir um favor e aquecer o coração. como as

coisas que não cabem mais em nós. o último filme que fiz e esse perfume que você

levou embora. e as frutas que eu pintei sobre você sem razão. e o dia foi fumando

o que eu sei. esse silêncio eu guardei na estrada e fiz o pó te cobrir. um pé e

outro. eu num caminho sem a tua imagem e sem a voz. com a medula chorando essas

estrelas grandes como o sol. mas eu não espero nada e talvez por isso eu sangre

enquanto caminho. e às vezes eu posso dormir sobre meus olhos. e eu leio a sombra

e água e o fogo com muito amor. porque isso não diz de nós. isso é. e eu sinto

como se abrisse o estômago e a manhã pra ir me deitar. como se fosse a melhor

coisa a se pensar. um sentimento bonito. um sorriso sem direção. tateando afeto

como uma coisa que permance jovem. uma asa errando pela rua. olhando os que

passam e não tem nome. essa treva do novo como um tóxico. mas isso é a melhor

coisa a se pensar. andar sem as mãos no bolso. observando os passos. e tudo que é

outro enroscando em nossa pele. eu saio e me perco. e isso é como uma rua

estreita. e eu me encosto nos outros. reviro os abismos sem código e isso é o

melhor a se pensar. eu sinto.
nós vamos cantando
e olhando a paisagem.

ó deus como isso nos faz bem.

nós cantamos
e andamos olhando a paisagem.

e todos vão descendo e ficando bem
e se juntam a nós.

cantando e olhando a paisagem.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

rá rá rá.
correndo pelado como um
louco ou como uma
bicicleta sem rodas só
girando por aí. rá rá.
correndo pelado pelas
ruas. destruindo as avenidas
como uma bicicleta
sem rodas. rá. correndo
e queimando as ruas. r. r.
r. r. r. r. recitando
a fúria de um deus
qualquer. caindo
como um metal pesado
sobre as costas. rindo
como uma luz
cegando um rosto.

domingo, 5 de agosto de 2007

eu quebro os ossos e sonho. vou adormecendo e quebro os ossos. como se escapasse

e dissesse que (nada) tudo (nada) é tão real. mas eu tenho passos lentos e meus

olhos deixo nos bolsos pra ver tuas mãos me tocarem. é fácil cair dentro de um

som. basta cegar os olhos. e sentir cada vértebra se partindo se rompendo como

uma corda. eu cheirei o sol e (não) era real e eu não sabia mais amar. mas trouxe uns

animais comigo. eu ainda estou bem. eu permaneço. como as rochas que continuam

rolando e vão pra longe.

sábado, 4 de agosto de 2007

você ri
como quem dança
ou escuta
uma música
antiga e bonita

e eu
não tomo
o café que você bebe

mas quero
passar o inverno contigo.