quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

sonho com sóis
saindo da selva

saúdo as sombras
serenas do sexo

sopro as seivas
secretas do sonho

sementes sangrando
séculos de saliva

e um símio com sabre
seccionando o sublime.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

a mente
é uma asa

roendo o espaço
azul

cavalos
comendo a lua

a água
desaba
sobre as pernas
do tempo

hipnotizando
fêmeas ancestrais.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

asas pequenas.
um texugo colhendo
manhãs
na fumaça das nuvens.

ilha do voo
tempo de água e lua
na garganta
do pássaro.

cem anos
fogueira & pupila

formigas cantam
nas dobras do vento

o ventre.

desenhos
e chuva (rio calmo da respiração).

peixes escrevem
as frutas vermelhas
na vértebra do sono.

ruídos e canções
de baleias
sobem em meus olhos.

sono
ninho ancestral das visões.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

o poema se faz
com o barulho dos ossos.

a poesia é ruído
distúrbio, transgressão
(os sons do corpo mamífero).

o poema cria
o abismo com violinos
e a vertigem
(as alucinações caóticas
do deserto do real).

a poesia é o incêndio
do encontro e o acaso:
olhos do nômade
na paisagem de animais.

a poesia é o vinho
da visão.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

em memória de rafael banana

a grande boca
do incompreensível
mordeu meu amigo
no peito

e me deixou aqui
no abismo.

sábado, 5 de junho de 2010

os dedos
inventando
a respiração
do fruto

tocando
fogo na noite

ouvindo
as palavras
que a terra
tatua
no corpo
do entusiasmo

doidos cometas
das visões
saltando nas pupilas
e formigas
comendo as passagens
da lua.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

noo telum

vaniali vaniali
tinub olori

golub golub

tivuna fuli
pice donula
ine ine ine
devimo amba
ponure ponure
lit teg teg teg

blub blub nut

nia zast

tulima tulima
rung rung peri tialo
totemoc totemoc

ishi nai zaden
ishi nai zaden

gampera
golivu nobi.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

um dia cinza:
fatigado & gordo.

noite & noise:
instigado mordo.
tempo cósmico
ruminando as entranhas do animal.
e mergulho da sombra
no lago.
pegou um corpo de pássaro
e colocou dentro da geladeira
de sua mente.

ouviu um ruído um ruído um ruído
e som de água correndo.

algumas nuvens
desabaram chuva sobre os olhos
da paisagem.

deitado na montanha de sonhos e devaneios
derrubando algumas constelações
no chá de ervas cósmicas.

ao redor da fogueira
escrevendo as pinturas
no chão e no abismo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

avenida universo

antes que o dia acabe.
antes que eu cubra o rosto.
antes que o gosto estrague.
antes que descubra um poço.

eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo


antes que a luz se esconda.
antes que a onda passe.
antes que a foice pense.
antes que arranje um disfarce.

eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo

eu deitarei na avenida universo

antes que a cãimbra espalhe.
antes que o espelho quebre.
antes que a lebre corra.
antes que morra ou neve.

eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo
eu deitarei na avenida universo

eu deitarei na avenida universo

terça-feira, 2 de março de 2010

o homem se encontrará como a água num desfiladeiro
e do qual poderá sair se, assim como a água, mantiver a conduta correta.

segunda-feira, 1 de março de 2010



















ela me disse: desmantelado.

e logo me vi
como um inseto verde e gigante
voando sem direção numa floresta tropical.

e logo me vi
como um personagem de um conto
do velho buk: copo de uísque
na mão e a viagem de ácido
na cabeça. procurando numa pilha
de papéis um poema anotado
na noite anterior no interior terno
do quarto desfigurado.

desmantelado:
o pensamento perambulando por paisagens
incineradas. a risada diante do agente
cartesiano. o cotidiano transfigurado
numa fábula fantástica. a enigmática
equação do comportamento íntimo.

desmantelado: eu estarei por aí
na vertigem da questão: a verei do meu lado?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

prévert quintana

deitado no infinito
comendo uva
vejo um tigre de Bengala
e um gato de guarda-chuva

desenho um mosquito
numa gruta escura
escondo os meus olhos
nos bolsos da loucura

registro assobios
numa fita magnética
escrevo no teu corpo
uma história erótica

enterro canções do sol
no ventre da memória
queimo as roupas no varal
(as cinzas contam a história)

cheiro a alma dela
toda a madrugada
mergulhamos nos abismos
e criamos a estrada

o mantra da vertigem
move nossa viagem:
o que existe
é o êxtase.
ecos e alucinações
os minérios da memória:

chuva e peixes
dentro dos bolsos.

história escrita
no voo da árvore.

vertigem e
música do sangue.

um pássaro
inventa o mar.

magma de imagens
na alma elétrica.
um peixe solúvel
no copo de leite.
um silêncio de pássaro
no peito da árvore.
um pouco de neve
no vermelho da gengiva.
um macaco quieto
no umbigo da montanha.

um olho andarilho.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010











o sol lisérgico e colorido
recombina meus sentidos:
invade a janela
e meus ouvidos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

o poema se faz com o barulho
dos ossos. A poesia é distúrbio,
ruído, transgressão - os sons do corpo mamífero.

O poema cria o abismo com violinos
e a vertigem (as alucinações caóticas do deserto do real).

A poesia é o incêncio do encontro
e o acaso: olhos do nômade
na paisagem de animais.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

escrevi um poema
depois que acordei
e desci do ônibus:

vi uma garota
comendo ameixas
dentro da chuva.
não demora
e a vertigem do horizonte
se instala:

numa amora
num jazz
num amor.