quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

casaco verde do acaso,
alguns dentes quebrados
nos bolsos, os ossos de aves
e pequenas naves chinesas.

desejo e extinção do desejo,
trevas, tempestades, ventania,
rebanhos de grãos de areia
contra as retinas fatigadas.

pernas queimadas, barriga
cheia de sonhos, senhas
escritas com saliva, selva
da mente picada por vespa.
águas turvas,
curvas de mágoas,
mandrágoras cuspindo
nos olhos das capivaras.

demência,
asa lilás.

carvão
debaixo da língua:
roubamos o fogo
dos leões & chacais.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ela apareceu como um raio,
rio e refez a respiração.

tinha pupilas de tamanhos
desiguais.

dizia canções, calmamente,
como quem descobre nos bolsos
de um vestido florido
a aurora.
preocupações estúpidas,
estranhas ocupações.
vértebras esmagadas
pelo sopro solar.

um homem de vidro
carrega nove pássaros
presos em suas claras
clavículas. seus cabelos
alertam sobre explosões
e chuvas de tijolos.

há um disco voador no pátio
da escola abandonada.
a língua lilás do elefante,
o tumulto de mosquitos
roubando a oferenda e
o incenso, vespas voando
alto no coração do dia.


com os dentes rasgar
a aurora, o dia que nasce
nas costas do tigre. uma
tartaruga cega ditando
poemas de amor e gentileza
para os rudes mecânicos
do absoluto, via clandestina
da visão da choupana sensível
escondida no breu do afeto.
há um lírio
no olho
da rã.

pode olhar
amanhã.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

camundongos, caramujos,
marujos de porre,
dias longos.

pupilas insensatas
cobertas pelas pálpebras
do amanhã.
 

a cãibra, o rum,
perder o rumo,
o câmbio de sonhos
e socos.
 

piadas baratas, fogueiras,
as bundas das freiras
desenhadas nas bandeiras
dos navios piratas
multiplicação infinita
do sossego.

uma vaca estelar
lambe meu esqueleto.

entre os dentes
a pérola do imprevisível.

lentidão do sonho

do lêmure sobre o fêmur.

gastronomia combinada

por telepatia.
 

loteria celeste
da viagem no tempo.

gigante utópico

desenhando esconderijos.
respiração
do cheiro
da tangerina.

um gomo
na palma
da mão
me lembra
um pulmão.

domingo, 13 de janeiro de 2013

vasto ócio
do ópio, ódio
apaziguado
pelo haxixe.

fico séculos
me divertindo
vendo besouros
e nunca fui
num boliche.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

bondade simples
da criança que cobre
com sombras a atividade
sorridente do caos.

assobios e gesto lento
do músico búlgaro
consertando a bicicleta
verde no cais.

carcará e formigas
na fila da sopa,
enquanto o navio
descarrega pólvora
nos ouvidos de caim.

debaixo das barbas de bachelard

o fogo é um animal
de sangue frio.

o rio é uma fruta
coberta de lodo.

o iodo é uma vegetal
na barriga da gruta.

***

disse-me uma cotovia:
voamos em sonho
quando somos felizes.

troca de casais

leão na cama
da camaleoa
e a leoa com
o camaleão.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

dobras de huidobro

amor e paciência,
o horizonte é um rinoceronte.
há migalhas de pão no bolso
do casaco do louco e um pouco
de sabão pra lavar a barba.

um sol nasce na pupila esquerda
e eu seguro a lua entre os dentes.

a morte que morde as entranhas
dorme tranquila na calçada.
apenas nove dúvidas espantosas
debaixo dos cabelos longos
da mulher que amo na grande viagem.

paraquedistas incendiados
ordenham as estrelas da boca do céu.

sementes abertas pelo olhar
caem no útero. a gigante
sorri ternamente e então começa
o combate singular do coração
comendo rosas e brócolis.

a alma é uma tesoura enferrujada
que repousa na voz de hiena
do inverno, sombra que uiva.
perdi
as chaves
de casa
e as asas
no último banho
de chuva
ácida.

profecia e uísque,
cabras comendo
a grama
da minha mente.

você
esquecerá meu nome,
ela disse. e assim foi.

mas ela não foi
embora da minha
cabeça.

amanhã lá na pracinha

no começo da busca
audição atenta
aos assobios
das árvores
mais curiosas.

o céu é lâmina.

ainda não conheço
a mãe de meus filhos.





caminhão carregado de mordida
e dinamites, mitos dinâmicos,
feridas abertas nas testas
dos titãs.

comunhão, corre gado
no mar doido e nas dunas,
farpas queridas das trevas
do tutano.

ouço histórias de amor,
conto histórias alienígenas.

as vibrações doidas e azuis
que cobrem de plantas sorridentes
a atividade do caos.

desastrosa esperança
que anda trôpega
no coração infernal
da luz.

trincheiras nas estradas
para casa. braços guardados
no casaco da nona guerra
pela noz e pelo diamante.

sangue encharcando
as cordas vocais da fumaça.

mergulho na pupila calma
de um bilhão de lugares
de chuva psíquica e doce
deslocamento no dorso
das fontes de energias
deliciosas.
os vizinhos ouvem
sun ra enquanto
fazem orações
para os ovnis.

não há musgo
na boca da pedra.

hálito sideral
que massageia
as lembranças
de pangéia.