segunda-feira, 29 de abril de 2013

magnetismo animal

palavras, palavras, palavras.
que eu fuja deste mar e o ar
se tornará mais leve, breve
instante antes da subida.

giramos pela noite com o fogo
roendo nossos calcanhares.

há uma ponte cuja aparição depende
do silêncio e do cio e se estende numa
terra sem perguntas, sem respostas,
amparada nas costas de uma imensa
tartaruga erótica.

confusão sexual & estômago, cabelos
bagunçados pelo vento e pelo tempo.
estar perto, dentro da polpa da fruta,
boca aberta como gruta de aventuras.

afasia, respiração ofegante, nervosa.
a dança que a loba inventa e invade
as florestas mais verdes, conexões
e notícias do pensamento alagado
do sangue doce da tempestade.

olhar sincero, vísceras e vícios
na ponta da língua, deserto
donde surgem as sementes
que germinam dentro
de nossos umbigos.
vagarosamente:

vaga
rosa
mente.

equilíbrio

empilhando pedras
no coração, soprando
plantas na noite nua,
lembrando da lua
ao alcance da mão.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

um porto, um mapa.

sem capa de chuva,
sem cama, no chão.

num colchão, telhado,
de lado, alados, atados.

respirando, indo, tão.
gratuidade infinita da comunhão,
bom senso do monge nu, senhor
cego que pratica tai chi, gnu ágil
trazendo de longe chá e incenso
enquanto bebe suco de limão.
tímido, beijei seu nariz. com
o sorriso dela não fico sozinho,
ouço o que a noite de chuva diz
e tomo uma garrafa de vinho.
e aprender uns truques
de facas, sair de rolê
com as focas, apaziguar
os garotos e as betas,
ouvir o que dizem
minhas botas.

terça-feira, 16 de abril de 2013

sê louca por inteiro, esqueça o dinheiro,
toque fogo nos bilhetes das loterias.
arrume um mergulho, sinta orgulho
de nadar e do nada, dê gargalhada.
colocar os pés no mundo
e a fé no coração de carne
do sonho de um segundo.
carregar latões de óleo,
lavar pratos, operar
máquina de fotocópias.

que a alma encontre
em todos os lugares
o que a ultrapassa.

que a pressa não
seja mais presente
que o sorriso demente.
evidente felicidade
da respiração, movimento
dos músculos, devaneios.

não há deserdados
do supremo amor, do sopro
do vento que varre a medula.

música da luz lilás,
água e dia áereo do sangue.
ela diz: deixa estar,
num jantar eu esmago
grandes ameixas.

eu digo: vagalumes ficam
girando em minha cabeça.

talvez seja fome, outro nome
para coração na neblina.

não sei muito bem de nada,
mas quero rever esta menina.
será que ela vem, dopamina?
ameixas secas, água
gelada. nenhuma briga
com a urtiga. algumas
éguas dormem nas gavetas
das meias coloridas.
abandonar a tosse
e as repetições acrobáticas
de ideias estacionadas.

um caminhão de mudanças
leva para o cemitério as roupas
dos ossos, caixas abarrotadas
com as cinzas dos livros
escritos com sangue.

garras dos carcarás carregando
a escuridão pelo ar, energia
da planta com raízes nos
cérebros dos macacos.
ainda dou ouvidos
a esta voz, esta noz
chamada ego.

não compreendo,
mas ouço noite & dia
estes pensamentos dançarinos
feito abelhas perturbadas pelo fogo.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

biografia de minha neta imaginária

aprendeu logo cedo
a entender o que o açude diz.
o nariz fareja a mais longínqua cereja.
desde nascença sabe a diferença entre o silêncio
e o silêncio. tem muitas cicatrizes, mas nenhum traço
de rancor, raiva, ânsia. descansa a cabeça sobre um
travesseiro de hortênsias. também é míope, não mente,
mastiga lentamente frutas e folhas. traduz os trovões
para um sabiá, caminha ao léu, segue para o céu a pé,
com fé e chá.