sábado, 29 de março de 2014

O
egO
pregO
pregO
egO
O
AGORA TALVEZ AGORA AKIRA ACHE A CURA
AGORA TALVEZ A CHAVE A FENDA O FUNDO DA CHUVA
AKIRA A LAMA AGORA O LEMA DA ÁGUA O VIDRO
AGORA AKIRA TALVEZ AGRURA ADORA CABEÇA AGORA ESCURA

a dor chega. amanhece,
aconchega no peito a febre,
a lebre o livro de vento não fere
a fibra o rosto roto do resto dos dias.

sísifo, lavador de pratos

não há pedras para carregar
para o alto da montanha
todas as manhãs. apenas
uma pilha de louça suja,
uma bacia com água suja,
esponja cheia de bactérias.

não há coleira para prender
a morte junto ao poste da CELPE.
(dois cozinheiros já morreram
encostados nos fios desencapados)

sísifo lava as facas, as facas,
as facas e nunca leva a ideia adiante.
no intervalo acende um cigarro e observa
a gordura gordura gordura que entope o ralo.

lavar pratos não é trabalhar com limpeza.
apenas transferência, a imundície vai
de um lugar para outro. ouro é tolice
nos dentes do morto e na cozinha
assobios não escondem os guinchos dos ratos.

sísifo, lavador de pratos.
todas as manhãs
retorna.

não há sentido em lavar pratos,
levar nuvens no bolso.

o osso
compreende a vida ao máximo.

sísifo, se fu
deu.
uma voz do chão, sopro.
poros atentos aos movimentos
do ar. SANGUE & SONHO.

casa de parto das almas.
pernas e milagres da respiração.
útero, útero, útero: árvore
entre céu e terra.

mobilidade, luxo do fluxo
feliz da intuição. o sorriso
da mulher abre uma brecha
na realidade tagarela.

sem obra do homem,
sem manobra de kristeller.

deposição da criança no solo: somos
terra, pó, este nó incompreensível
com a poeira das estrelas.
o amor não está previsto em lei
o amor não está previsto
o amor não
o
: sabedoria :
sabre sobre
as sobras
das sombras
horrível tenebroso
simpático

patético infalível
carinhoso

agressivo suave
inábil

: sim : talvez : não

caranguejos com cérbero

eu vi o inferno e ele
começava aqui em
PERNAMBUCO.

segunda-feira, 17 de março de 2014

do verdinho, lógico.
anda logo, verdugo.

trago do cego
no cigarro
do mendigo.

corpo de fumaça
no tapete de veludo.
sombra
que é nossa
maravilha rara.

assombro no peito
de quem procura

encher a cara,
achar a cura.
laboratório
oratório
to orion.

sábado, 15 de março de 2014

estou nu e
há chá no
bule blue
a faxina do xamã
a faxina do xamã
a faxina do xamã

luz que rodopia
escuridão sombra
alma da coruja atenta

a faxina do xamã
garganta mantra

a faxina do xamã
olhos limpos, pele
lavada pela lua.

a faxina do xamã
língua do sol,
língua do sol no ventre.

espírito sereno, viajante.
a faxina do xamã, o jantar
pronto, comida fresca,
folha dos sonhos.

a faxina do xamã
não há mais doentes

dentes tintos de vinho
dos totens, coração
mordido.

a faxina do xamã
a aurora, o poente
água do rio corrente

alegria, entusiasmo
a lebre diz: entre.

no sanitário do sanatório

anônimo e anêmico,
o ânimo do homem
biônico se restabelece
ao tocar fogo nos rolos
de papel higiênico.

bombeiro afastado
por piromania, não perdi
a mira.

todo dia desafio
o sonho velho
e mijo no espelho.

as chamas
me contam segredos,
papo solto nos saltos.

só depois a urina
no fogo, a fumaça.
cachorro, alma
cínica sem mordaça.

terça-feira, 11 de março de 2014

esta cidade atropela

ninguém pelado:
vestem os ferros
de seus carros.

um poeta olha
para os dois lados
e atravessa para molhar
a língua na zona escura da lua.

sempre atropelado,
nunca lido.

não duvido,
sua calma subiu aos céus.

homem lento, passeia
com a tartaruga pelo vento.

domingo, 9 de março de 2014

ateu místico, o chacal,
caolho e terno, colhe
as canções do orvalho.

saliva também molha
folhas da cannabis sativa.

psicoterapia das plantas,
cochilo nas sombras,
dia morno: memória
das águas, eterno retorno.

poema tirado da notícia da morte de leopoldo maría panero

loucura, sombra
onde germina
grão da voz doce
e terrível.

ternura insuportável
da menina tagarelando
sobre abismos.

tesoura vermelha,
imaginação sem contornos.

dragão saudando poemas
do manicômio de mondragón.

caprichosa perambulação,
vespas e papoulas circulando
no sangue dos gigantes cegos.

animal não tem nome

milhões de caminhos
para o batuque.

alma & sopro.

som das respirações,
saberes que sondam
e sonham as mortes.

...

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